sábado, 6 de janeiro de 2018

IMPRESSÕES SOBRE O BALANÇO VAZIO


Há alguns meses recebi um presente de um amigo escritor. Um livro que de certa forma custou para eu começar a ler. Não por nada referente ao livro. Mesmo porque trata-se de uma bela ilustração de capa e o nome atrativo. Além de ter sido premiado pelo Conselho Municipal de Assistência à Cultura da Cidade de Americana. Contudo, tive que adiar alguns meses a leitura. Talvez o motivo do atraso tenha sido devido a uma fila de obras que eu precisava ler e demais encargos do cotidiano. Talvez tenha sido apenas uma procrastinação. Qualquer desculpa se torna desculpa. 


Enfim chegou o momento de ocupar o meu lugar e ler "O Balanço Vazio" para saber quais os meandros que envolviam a história escrita por Juliano Schiavo. Bastou começar para minha atenção voltar-se toda  à leitura.  Vivi 3 dias instigado em ler. Mesmo quando não estava com o livro em mãos. Logo, as 182 páginas pareciam poucas perante o interesse despertado. Estava diante de um texto claro e contemporâneo que me transportou para aquele universo habitado por André, Fernanda e companhia. 

A história do livro é contado em dois tempos  (presente e passado) que vão se intercalando a todo momento. O presente nos mostra a situação atual do protagonista enquanto os flashs de seu passado vão nos contextualizando aquele momento. A narração ocorre em terceira pessoa na maior parte do tempo. Somos conduzidos por um narrador onisciente que conhece tudo, vê tudo em grandes detalhes, mas não participa da trama. Evidente que em certos momentos, existe a troca de perspectiva. Então, muda-se  o narrador de terceira para primeira pessoa. Acontece quando estamos diante de alguma carta que nos proporciona o ponto de vista daquele determinado personagem. 

Foto de Brenda Millani

Complexo de entender? Nenhum pouco! Conforme lemos, vamos nos habituando este formato de narrar que casa bem com a história. Sem dúvidas, a descrição primorosa e detalhista do ambiente me fizeram ver claramente o cenário construído por Schiavo. O relato de sentimentos me fazia até me identificar e compactuar com as emoções e reações dos personagens. Literalmente embarquei com protagonista na sua fuga de Americana até o Retiro do Silêncio localizado na cidade de São Roque de Minas. 

Tratava-se de uma jornada quase interna na complexa decisão de André poupar a namorada Fernanda de sua moléstia. Ele é alguém sofrendo diante de algo que só vamos descobrimos aos poucos conforme o desenrolar. Ocorre que na busca pelo silêncio, ele encontra outras vozes atormentados. O local escolhido é uma espécie de Santuário que as pessoas buscam respostas para seus mais variados conflitos. Certamente não é o silêncio que ele encontra lá. Acaba tornando-se uma espécie de mentor e conciliador sempre com uma palavra amiga e incentivo.

Justamente a interação deste personagem com os demais é que faz o livro não acabar parado. A chegada de novos personagens dá movimento à trama para não ficar presa no tema central. É interessante como é costurada essa relação de desconhecidos e troca de experiências. Um ou outro te toca mais fundo. Até porque querendo ou não todo mundo tem um dilema pessoal. Torna-se algo que nos faz parar para pensar. 


Involuntariamente, enquanto lia este livro, os meus pensamentos recordavam livros como "A Cabana" e "O Pequeno Príncipe". Livros em que os personagens centrais também dialogam com diversos outros personagens na busca pela construção de si mesmos. É este processo de conhecimento de outras histórias e vivências  que transformam-os em seres capazes de uma ascensão. Assim, esperei que André usasse o aprendizado para rever os próprios conceitos e reparar algumas atitudes inglórias. Desejei muito que ele aprendesse com os demais ou resolvesse seguir os próprios conselhos. Entretanto, ele não é uma personagem que se transforma ou evolui. 

André é um exemplo de personagem plano. Talvez seja como a tal borboleta citada que realmente não conseguiu abrir as asas para levantar voo e morreu no processo. Não que seja mal escrito. Muito pelo contrário. Vejo isso como um intencional. Assim, o livro nos mostra o que acontece na realidade e bem ao nosso redor. Quantas pessoas não tem chances de mudar algo e não faz nada. Até nós mesmo! Insistimos em caminhar por caminhos errados só para não mudar o curso ou não dar o braço a torcer. Evitamos ir além tomados pela procrastinação ou medo de ferir, machucar e assustar a quem queremos bem. Às vezes, sabemos o que seria mais certo. Mesmo assim, permanecemos no erro achando que é o melhor. André segue assim com sua ideia formada desde o início. É um personagem que ajuda todos mas torna-se incapaz de ajudar a si mesmo. 

Diante dessa situação, fui me envolvendo, me encontrando e me sensibilizando com essa cegueira tão mais comum do que podemos pensar. Quantas vezes não agimos da mesma forma? Inúmeras! Por fim, chorava descontroladamente mesmo feliz por ler. Fui pego pela catarse e não conseguia parar. Entendi que este livro proporcionava uma viagem ao interior de mim mesmo. Na minha busca por alternativas e, muitas vezes, insistência em permanecer estagnado. Foi uma ótima experiência. Tanto que só me resta recomendar a leitura do livro "O Balanço Vazio" de Juliano Schiavo para todas as pessoas (independente de gênero ou idade). Será uma boa leitura e um momento de reflexão mesmo os demais leitores não tendo a mesma impressão que tive.


Fotos de Internet


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