segunda-feira, 12 de novembro de 2018

BARTLEBY

Cia Bardos (imagem de internet)

Confesso que recentemente o nome de Bartleby se tornou uma constante sonora. O conto do escritor norte-americano Herman Melville tinha sido lido em um grupo de leitoras conhecido. Então, o nome ficou durante muito tempo ecoando de um lado para o outro. Algumas raras vezes vinham com algumas impressões sobre o texto, personagem e todo o contexto. Mas, diante da correria do cotidiano, muitas atribulações, inúmeras leituras pendentes e textos para escrever, preferi não pesquisar, não ler e não me aprofundar nessa empreitada. 

Talvez até por não ter me chamado tanto a atenção, eu nem tenha procurado saber se existia filme sobre a história. Depois ainda teria que tentar baixar da internet ou pedir para alguém fazer... Etc, etc... Deixei quieto até uma amiga me convidar para ir ao teatro ver a peça montada por um grupo da minha cidade. Ainda assim, não me senti estimulado a ir. Só que outro amigo também me convidou. Então, não teve escapatória, fui ter meu encontro com aquele personagem que ultimamente estava tão famoso dentro da minha rotina.

A adaptação da Cia Bardos que deu vida ao “Bartleby - o Escrivão” no palco do Teatro Nelson Castro, surpreendeu-me com a riqueza de detalhes. Um cenário bem construído, simples, mas buscando retratar detalhes de um escritório, onde se passava a trama. O figurino e as interpretações também chamavam a atenção. De repente, a vida de três personagens entra em conflito com a chegada do protagonista, um ser estranho e apático. Mesmo ciente das próprias funções Bartleby, de uma hora para outra, oferece resistência passiva frente ao patrão. O combate estabelecido entre o protagonista e o advogado, também narrador, revela um ambiente de tensão, regado a várias cenas de humor. 

Foi dessa forma que conheci a história de Bartleby e fiquei sabendo porque ele era tão comentado nas rodas literárias. O personagem acaba indo contra um sistema, quando opta pela liberdade de preferir não fazer o trabalho. Por fim, acaba se deteriorando nessa questão de preferências daquilo que não quer fazer. Senti-me o próprio Bartleby quando tive preguiça de procurar mais informações sobre aquele personagem que estava sendo tão comentado. Quantas vezes mais não somos como Bartleby e postergamos assuntos importantes ou decisões difíceis? 

Assim, tornamo-nos coniventes com esse personagem que fica repetindo quase sempre a mesma frase do “prefiro não fazer” com a mesma expressão de pouco se importar. Alguém de tão pobres argumentos se transforma num ser tão rico e existencial, que nos remete a nós mesmos em várias circunstancias. Desde o não querer fazer e o realmente romper com algo até que ponto seremos Bartleby? Será que teremos a mesma coragem de confrontar o sistema para morrer na anêmica falta do que fazer?

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