terça-feira, 24 de dezembro de 2013

COMO A MALVADA PODE SER A FAVORITA?


O filme “Espelho Espelho Meu” (2012) reconta um clássico com destaque maior ao personagem  de singular importância nos contos infantis: a vilã. O que podemos metaforizar a citação da famosa frase título e ênfase no espelho como uma inversão de valores da história original. Afinal, no reflexo do espelho as imagens aparecem invertidas e aqui quem ganha destaque não é a protagonista de direito.

Logo no início, a madrasta e narradora profetiza a importância do papel que interpreta: “Esta história é minha e não dela”. Refere-se com desdém à Branca de Neve que no desenho da Disney é insossa e subordinada aos afazeres domésticos. Neste filme a princesa órfã deixa o status de Amélia para integrar uma quadrilha de sete anões zombeteiros. Contudo, não empolga como protagonista e não consegue roubar a cena da malvada rainha interpretada por Julia Roberts. 

A atriz veterana protagoniza as cenas mais hilárias e divertidas do filme. Com certeza, a inveja, intriga, segredos e armações dela é que criam o conflito e todas as expectativas. A personagem maquiavélica tem destaque apesar da vilania, crueldade e cobrança excessiva de impostos em prol de luxos, vaidades e festas particulares (qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência).

Por mais pecados e perversidades que a rainha possa aprontar, jamais conseguirá despertar rancor e ódio em quem assistir ao filme. A eterna “Uma linda Mulher” atribui charme com tons cômicos cheios de excentricidade à personagem. Assim, como no filme o “Casamento do Meu Melhor Amigo”, há momentos em que torcemos pelo final feliz da antagonista com o Príncipe. 

CHARLIZE THERON CONTRA A BRANCA DE NEVE




A eterna história dos irmãos Grimm foi reavivada por dois filmes quase simultaneamente. O filme “Branca de Neve e Caçador” (2012) se divergiu da comédia pastelão de “Espelho, Espelho Meu” para seguir o das aventuras épicas como O Senhor dos Anéis.  Nos cenários  que remetem a terra média, na trama foi inserida a existência de trolls e outros seres mágicos. 

A beleza e talento da rainha má interpretada por Charlize Theron roubaram a cena. Em 127 minutos, somos seduzidos pela bela bruxa que piraria qualquer  espelho mágico. A vilã consegue impor-se como a favorita no confronto com uma protagonista fraca e inexpressiva.  Apesar de malvada, a rainha tem brilho próprio e assumiria perfeitamente o papel principal no triângulo amoroso entre o príncipe e o caçador. 

AS VILÃS BRASILEIRAS

As vilã brasileiras também tiveram momentos de destaque na dramaturgia nacional. A atriz Patrícia Pilar marcou época na novela “A Favorita” (2008). Ela interpretou Flora: um verdadeiro lobo em pele de cordeiro. Após ser desmascarada, a personagem colocou terror na trama e proporcionou uma reviravolta que alavancou a audiência.

Na novela “Avenida Brasil” (2011), a atriz Adriana Esteves fez a personagem Carminha entrar para a história. Ela protagonizou momentos antológicos humilhando a empregada e protagonista Nina. Numa cena, a malvada derrubou vinho no chão só para obrigar a moça a se rebaixar. Em outro momento macabro, enterrou a protagonista viva. A excelente intepretação fez a atriz ganhar admiração do público e elogios da crítica.

O novelista Aguinaldo Silva também escreveu várias vilãs memoráveis. Uma delas foi inesquecível Nazaré Tedesco interpretada por Renata Sorrah em “Senhora do Destino” (2004). Ela raptou um bebê na maternidade e usou uma escada para matar vários personagens. Em “Fina Estampa” (2011), Cristiane Torloni deu vida a excêntrica socialite Tereza Cristina  que dificultou a vida de Griselma (Lilian Cabral).

A malvada cantora Chayene interpretada por Claudia Abreu ganhou a simpatia do público na novela “Cheias de Charme” (2012). Irreverente e maldosa, ela infernizou a vida das Empreguetes com muito humor. Atualmente, o tom de sarcasmo e ironia fazem o vilão Felix  um dos maiores destaques da novela “Amor à Vida”(2013). Apesar de mau caráter e de ter jogado a própria sobrinha numa caçamba de lixo, o vilão gay tornou-se popular. E tudo indica que ele passará por uma metamorfose e será regenerado. 

JÓIAS MORTAIS

O peso cênico e dramático das vilãs é determinante para uma boa história. Na novela mexicana Rubi (2004), a protagonista e antagonista são a mesma pessoa. Uma garota bela, ambiciosa e sem limites em busca de dinheiro e o melhor da vida. O charme da personagem é justamente não cumprir com a ética e a moral. No fundo, os vilãos são pessoas “normais” que querem sobressair aos outros e ter destaque.

O filme Malévola (2014) promete humanizar a mais terrível e assustadora das bruxas.  A atriz Angelina Jolie dará vida à perversa e vingativa feiticeira das trevas. Ela quer se vingar da família real que não a convidou para o batizado da princesa. A produção promete surpreender e mostrar ambiguidade na obscura personagem. E será que ao fim vamos torcer pela dorminhoca Aurora ou a bela e maléfica Malévola de Jolie?

Com protagonistas chorosos, atrapalhados, apagados e sem vida, não é difícil o(a) malvado(a) chamar mais atenção e se tornar o favorito. Quando os antagonistas são retratados com toques humanos pode até comover o receptor. Assim, as maldades instigam e oferecem emoção nas tramas. Afinal, nem todo mundo é totalmente bom ou extremamente ruim. Por isso, não é muito difícil torcer por um final feliz das Carminhas, Malévolas  e companhia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário