O livro “Guia Politicamente Incorreto na História do Mundo”
tem o objetivo de ir contra a doutrinação da história pregada na escola. Desde
o primeiro livro sobre o Brasil e outro sobre a América Latina, o escritor e
jornalista Leandro Narloch reúne os principais acontecimentos e ícones da
história para quebrar paradigmas e ideologias.
Se na escola aprendemos a denominar bem quem foram os anjos
e demônios na história, esta leitura proporciona um paralelo entre a narrativa
recontada como verídica e algumas pesquisas e hipóteses abdicadas. Assim, somos
guiados numa aventura a vários nuances não oficiais nos livros didáticos e
rejeitados em provas de vestibulares.
Os episódios são contados sem os rodeios da rotina escolar
que durante anos assombram e criam repulsas em muitos estudantes. A leitura do
livro é fácil com palavras atuais e uma linguagem que não é rebuscada ao ponto
de entediar o leitor. O autor não deixa de ser formal, mas domina o suficiente
da locução contemporânea para o texto não ficar cansativo.
Quanto mais o receptor se aprofunda na leitura, igualmente
tem vontade de saber como continua e termina os fatos narrados. Ao longo do
livro, folhas com cores invertidas (páginas pretas com letras brancas) estão
inseridas para acrescentar mais detalhes e informações ao conteúdo.
Hiperlinks também fazem parte do livro: localizado nas
laterais estão pequenos textos para guiar na leitura, explicar termos e
acontecimentos. Estes auxiliares formam um canal direto e estreito entre o
escritor e leitor. Muitas vezes, Narloch deixa a ocupação de apenas narrar os fatos
para expor as opiniões próprias, comparar acontecimentos, indicar vídeos e
sites.
SPOILERS
As teorias conhecidas como verdades absolutas e sem contestação
em outros livros são expostas seguidas de argumentos que as colocam em
xeque-mate. Assim, o imperador romano Nero deixa o posto de incendiário para
tornar-se apenas suspeito. Segundo as pesquisas de Narloch, muito do que se
atribuiu ao diabólico imperador foi
escrito séculos após a morte dele. A maioria dos acusadores eram opositores
republicanos insatisfeitos com a derrocada da República.
A narrativa cita fontes, acontecimentos e relatos que
demonstra uma profundidade e credibilidade maior aos eventos. A leitura é tão
agradável sobre um período tenso que foi o império romano que o tema poderia
ser prorrogado nas 351 páginas seguintes.
Com certeza não faltaria assunto e imperadores cheios de segredos e mitos
para serem desfiados até o fim do império.
A derrocada dos romanos também ganha menção e é definido como uma verdadeira tragédia.
Em outro capítulo, a idade média é desmistificada da
situação de a idade das trevas e de pouca liberdade sexual. Segundo o livro, o
período não tinha tanto bloqueio e narrativas como Decamerão comprovam vários
acontecimentos ou fantasias sexuais decorrentes deste momento. Assim, o cinto
de castidade deixa de ser um costume da época para impedir a infidelidade. Em algumas regiões da Europa foi muito útil
para coibir os estupros promovidos por invasores estrangeiros.
Baseado numa pesquisa no congresso nacional, o autor demonstra semelhança de
pensamentos entre o ditador fascista Mussolini e os políticos brasileiros da
atualidade. Assim, a ideologia
nacionalista que aproximou a Itália de um acordo com Hitler não parece tão distante da nossa realidade.
A miséria e fome na África que é retratada com um olhar diferente do que os exames nacionais (ENEM) pregam como resultado do período de colonização e exploração europeia. Conforme o Narloch, após independência africana, alguns dirigentes causaram genocídios e
extermínio de etnias com guerras e falta de subsidios para acabar com a
fome.
OBSERVAÇÃO
Jornalista experiente, Leandro Narloch é dono de
um texto que prende e empolga o leitor. No currículo tem inúmeras reportagens
na revista Veja e também foi o editor das revistas Super Interessante e
Aventuras na História. Portanto, não se
trata de um desconhecido no tema e não podemos chamar de sorte de principiante ou de um jornalistazinho que se mete a historiador (como a maioria das críticas prega).
Nada mais justo do que admitir os méritos de Narloch como escritor bem ciente
do assunto e dos meandros da composição de livro.
Ao fim da leitura, provavelmente sentir-se-á ausência da
Revolução Francesa substituída por uma infundada rebelião dos estudantes
franceses em Maio de 68. Além de cada leitor imaginar outros fatos que poderiam
ter ganhado as páginas: o império Mongol, os Vikings, a Guerra dos 100 anos, a
chegada do homem à lua, Nelson Mandela (que está na capa, mas no livro num faz nem figuração), etc. Mas, é compreensível que o livro não tem a
pretensão de retratar toda história do mundo. Contudo, por tornar-se uma boa
opção de leitura, resta torcer pelo projeto da editora Leya não se encerrar e
ganhar novas continuações.
Nossa, quero muito ler esse livro!
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