sábado, 4 de janeiro de 2014

UM NOVO OLHAR PARA A HISTÓRIA DO MUNDO!

O livro “Guia Politicamente Incorreto na História do Mundo” tem o objetivo de ir contra a doutrinação da história pregada na escola. Desde o primeiro livro sobre o Brasil e outro sobre a América Latina, o escritor e jornalista Leandro Narloch reúne os principais acontecimentos e ícones da história para quebrar paradigmas e ideologias.

Se na escola aprendemos a denominar bem quem foram os anjos e demônios na história, esta leitura proporciona um paralelo entre a narrativa recontada como verídica e algumas pesquisas e hipóteses abdicadas. Assim, somos guiados numa aventura a vários nuances não oficiais nos livros didáticos e rejeitados em provas de vestibulares. 

Os episódios são contados sem os rodeios da rotina escolar que durante anos assombram e criam repulsas em muitos estudantes. A leitura do livro é fácil com palavras atuais e uma linguagem que não é rebuscada ao ponto de entediar o leitor. O autor não deixa de ser formal, mas domina o suficiente da locução contemporânea para o texto não ficar cansativo.

Quanto mais o receptor se aprofunda na leitura, igualmente tem vontade de saber como continua e termina os fatos narrados. Ao longo do livro, folhas com cores invertidas (páginas pretas com letras brancas) estão inseridas para acrescentar mais detalhes e informações ao conteúdo.

Hiperlinks também fazem parte do livro: localizado nas laterais estão pequenos textos para guiar na leitura, explicar termos e acontecimentos. Estes auxiliares formam um canal direto e estreito entre o escritor e leitor. Muitas vezes, Narloch  deixa a ocupação de apenas narrar os fatos para expor as opiniões próprias, comparar acontecimentos, indicar vídeos e sites.

SPOILERS

As teorias conhecidas como verdades absolutas e sem contestação em outros livros são expostas seguidas de argumentos que as colocam em xeque-mate. Assim, o imperador romano Nero deixa o posto de incendiário para tornar-se apenas suspeito. Segundo as pesquisas de Narloch, muito do que se atribuiu ao diabólico imperador  foi escrito séculos após a morte dele. A maioria dos acusadores eram opositores republicanos insatisfeitos com a derrocada da República.

A narrativa cita fontes, acontecimentos e relatos que demonstra uma profundidade e credibilidade maior aos eventos. A leitura é tão agradável sobre um período tenso que foi o império romano que o tema poderia ser prorrogado nas 351 páginas seguintes.  Com certeza não faltaria assunto e imperadores cheios de segredos e mitos para serem desfiados até o fim do império.  A derrocada dos romanos também ganha menção e  é definido como uma verdadeira tragédia.

Em outro capítulo, a idade média é desmistificada da situação de a idade das trevas e de pouca liberdade sexual. Segundo o livro, o período não tinha tanto bloqueio e narrativas como Decamerão comprovam vários acontecimentos ou fantasias sexuais decorrentes deste momento. Assim, o cinto de castidade deixa de ser um costume da época para impedir a infidelidade.  Em algumas regiões da Europa foi muito útil para coibir os estupros promovidos por invasores estrangeiros.

Baseado numa pesquisa no congresso nacional, o autor demonstra semelhança de pensamentos entre o ditador fascista Mussolini e os políticos brasileiros da atualidade.  Assim, a ideologia nacionalista que aproximou a Itália de um acordo com Hitler não parece tão distante da nossa realidade. 

A miséria e fome na África que é retratada com um olhar diferente do que os exames nacionais (ENEM) pregam como resultado do período de colonização e exploração europeia. Conforme o Narloch, após independência africana, alguns dirigentes causaram genocídios e extermínio de etnias com guerras e falta de subsidios para acabar com a fome.

OBSERVAÇÃO 

Jornalista experiente, Leandro Narloch é dono de um texto que prende e empolga o leitor. No currículo tem inúmeras reportagens na revista Veja e também foi o editor das revistas Super Interessante e Aventuras na História.  Portanto, não se trata de um desconhecido no tema e não podemos chamar de sorte de principiante ou de um jornalistazinho que se mete a historiador (como a maioria das críticas prega). Nada mais justo do que admitir os méritos de Narloch como escritor bem ciente do assunto e dos meandros da composição de livro.

Ao fim da leitura, provavelmente sentir-se-á ausência da Revolução Francesa substituída por uma infundada rebelião dos estudantes franceses em Maio de 68. Além de cada leitor imaginar outros fatos que poderiam ter ganhado as páginas: o império Mongol, os Vikings, a Guerra dos 100 anos, a chegada do homem à lua, Nelson Mandela (que está na capa, mas no livro num faz nem figuração), etc. Mas, é compreensível que o livro não tem a pretensão de retratar toda história do mundo. Contudo, por tornar-se uma boa opção de leitura, resta torcer pelo projeto da editora Leya não se encerrar e ganhar novas continuações.

Um comentário: