A novela Amor à vida teve no primeiro episódio um ritmo alucinante. Conforme publicado no site MSN Brasil: "Em cerca de 90 minutos, a mocinha descobriu um segredo de família, se rebelou contra os pais, fugiu, encontrou um amor-bandido, engravidou, voltou para casa sozinha, reencontrou o amado, terminou o romance, deu à luz e teve a filha roubada”. Assim a apresentação dos principais personagens foi mediante a uma narração frenética. Igualando-se ao ritmo de vida na cidade de São Paulo: o principal cenário da trama.
Amor à vida teve a missão de substituir o fiasco em audiência e crítica que foi a novela anterior Salve Jorge. A união do escritor Walcyr Carrasco, direção geral de Mauro Mendonça Filho e núcleo de Wolf Maya trouxeram uma trama recheada de expectativas, clichês, mistérios e recortes cinematográficos para prender o telespectador. Isso surtiu efeito e, em comparação com a primeira semana da trama anterior que obteve 32 pontos de audiência, a história de amor e ódio dos irmãos Paloma e Félix alcançou 34 pontos na grande São Paulo.
POLÊMICAS
Durante os 221 capítulos, a trama foi envolvida em inúmeras polêmicas e situações que se estendiam da ficção para a realidade. Ambientada em um hospital, o núcleo de enfermeiros e médicos foi bem criticada por não representar na ficção o que a classe considera como ético e correto. A personagem de Marcia que era uma ex-chacrete foi alvo de protestos das ex-dançarinas do “velho guerreiro”. O vilão gay Felix num primeiro momento foi recriminado por homossexuais que se sentiram ofendidos por serem retratados com tons de falcatruas e maldades.
Sem dúvidas uma das maiores polêmicas entre o real e a ficção que envolveu a novela foi à personagem Nicole interpretada pela atriz Marina Ruy Barbosa. Conforme especulações, a atriz teria se comprometido a raspar as madeixas ruivas quando a personagem estivesse fazendo o tratamento de um câncer. Contudo, depois de se negar a ficar careca, a personagem foi assassinada e permaneceu muda na trama como fantasma enquanto ouvia insultos dos outros. Por fim, a história de Nicole foi resolvida e a personagem foi substituída por outra ruiva num triangulo amoroso.
Atores como Juliano Cazarré (Ninho) e Marcello Antony (Eron) que tiveram os personagens com a sinopse alterada não economizaram críticas ao texto. Walcyr um assíduo usuário das redes sociais e conhecido por vingar-se por meio dos personagens, retrucou todas as reclamações com desdém e ferocidade: “Convivo com atores que tiveram um sucesso extraordinário na novela e esses estão muito felizes. Pessoalmente, estou muito feliz com o resultado de ‘Amor à Vida’”.
DESTAQUE
Enquanto alguns personagens se perderam na trama, a periguete Valdirene roubou a cena e conseguiu empolgar o telespectador. Em certos momentos, a piradinha conseguia mais atenção que a morna protagonista Paloma. A espevitada em busca da fama e de um milionário contracenou com famosos, jogadores de futebol e até adentrou a casa do Big Brother Brasil. O sucesso elevou o conceito e a moral da estreante Tata Werneck na Rede Globo.
Outro grande e surpreendente destaque foi o vilão gay Felix interpretado por Mateus Solano. O acido e invejoso irmão da protagonista que passou a maior parte da novela tentando prejudica-la e assumir a direção do hospital da família ganhou a graça do público. Dono de um humor sarcástico, as piadas do personagem utilizando situações da bíblia caíram na boca das pessoas. O vilão teve um processo de regeneração e metamorfose que culminou com a redenção e um final feliz.
Outro grande e surpreendente destaque foi o vilão gay Felix interpretado por Mateus Solano. O acido e invejoso irmão da protagonista que passou a maior parte da novela tentando prejudica-la e assumir a direção do hospital da família ganhou a graça do público. Dono de um humor sarcástico, as piadas do personagem utilizando situações da bíblia caíram na boca das pessoas. O vilão teve um processo de regeneração e metamorfose que culminou com a redenção e um final feliz.
O FINAL
Muitos podem dizer que a novela teve um final surpreendente e único, realmente o final foi inesperado. Contudo, na minha humilde opinião, surpreendente seria ver a grande vilã Aline fugindo da cadeia e colocando o terror nos personagens centrais no último bloco. Intimamente, eu torci para que ela agitasse o final, roubasse os eleitores (ops), matasse algum personagem importante, sequestrasse a protagonista, terminasse em pune e rica. Só assim seria verossímil com a realidade que vivemos diariamente. Contudo, os meus ideais foram frustrados quando Aline morreu na tentativa de fuga.

Sem dúvidas, o vilão Felix transformou-se no maior herói da história. Todas as atrocidades que cometeu em boa parte da trama foram justificadas pelo desprezo do pai e a homossexualidade oculta. Quando o personagem foi desmascarado também foi retratada a saída do armário com toda a perversidade que escondia consigo. Destronado, pobre e no calvário, Felix se reestrutura e renasce na trama como uma fênix das cinzas. Então, ele salva o pai das garras da vilã Aline e se propõe a cuidar dele movido pela carência paterna.
A última cena da novela é extremamente comovente. Inspirada no filme Morte em Veneza, vemos pai debilitado e filho zeloso em frente ao mar diante do por do sol. O filho rejeitado pelo pai tornou-se o guia e cuidador, sendo olhos na cegueira e mobilidade na paralisia. Felix reafirma o amor pelo pai que sempre lhe rejeitou, enquanto este embargado pela emoção admite enfim o reciproco amor. Assim, sentados nas cadeiras de praia, ambos se dão as mãos. O ato remete a pintura de Michelangelo na capela Sistina em que Deus cria Adão.
O BEIJO GAY
O beijo gay finalmente aconteceu na Rede Globo depois de 10 anos da emissora ter censurado o beijo entre dois homens na novela América de Glória Peres. Em diversas outras novelas, surgiram inúmeras especulações que envolveram várias tramas com personagens homo-afetivas. Contudo, até a cena do beijo entre os personagens Niko (Thiago Fragoso) e Felix (Mateus Solano) em Amor à Vida, nenhum outro autor ou novela do canal tinha exposto esta intimidade.
Em Fina Estampa (2011) de Agnaldo Silva, o personagem Crô interpretado por Marcelo Serrado também ganhou importante destaque na novela. A repercussão foi tanta que o personagem tornou-se protagonista de um filme solo “Crô o filme” (2013). Apesar das grandes expectativas envolvendo um amante oculto de Crô, aquela trama não teve a cena consumada. O autor criou falas criticando a postura da emissora e ironizando a situação, mas as falas também foram cortadas da trama.
Inúmeras produções norte-americanas retrataram a cena sem pudor. O beijo entre duas mulheres foi retratado na novela Amor e Revolução (2011) de Thiago Santiago no SBT. Todavia, o acontecimento que marcou o fim da novela Amor à vida transformou-a num evento histórico na televisão brasileira. Afinal, o beijo entre dois homens exibido no horário nobre e na novela de maior repercussão do Brasil ecoou alto. O momento proporcionou manifestações favoráveis e contra nas redes sociais e ganhou destaque em jornais internacionais.
O beijo foi apenas o selo numa trama que envolveu outras questões da inclusão social de homossexuais no cotidiano. A novela promoveu discussões da situação à integração do gay na sociedade: preconceitos, adoção, traição, ambição, busca pelo espaço e a construção familiar. Mais do que mocinhos e vilões retratou o homossexual como ser humano normal fora da margem e habitante ativo da sociedade, quem paga impostos, merece respeito e tem o direito de participar das principais decisões sociais no país.
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