quarta-feira, 28 de outubro de 2015

A TRAVESSIA ENTRE AS DUAS TORRES GÊMEAS.


Não posso negar que resolvi assistir ao filme “A Travessia” (2015) do diretor Robert Zemeckis com um olhar desconfiado. Crente que seria mais uma sessão de idolatria norte americana para divulgar símbolos e conquistas. Pensava que seria guiado a um merchandising patriota. 

Claro que de certa forma, não deixa de ser mais um tributo saudosista ao World Trade Center. As torres gêmeas destruídas no ataque terrorista em 11 de setembro de 2001 são reerguidas e reavivadas em computação gráfica de alta tecnologia. De repente, estamos diante dos dois prédios intactos numa demonstração de que o mito torna-se eterno.
Porém, o enredo vai muito além desse nacionalismo explicito que, querendo ou não, está inserido na ideologia do cinema hollywoodiano. Aqui o cenário é remontado para recontar o episódio real em que um equilibrista francês fez toda a nação estadunidense de boba. Afinal, como pode um estrangeiro sem eira e nem beira conseguir atravessar as duas torres num cabo de aço?



O evento inesperado que marcou a cidade de Nova York no ano de 1974 é narrado de forma lúdica. Então, somos conduzidos pela narração do personagem principal Philippe Petit (interpretado por Joseph Gordon-Levitt). Surpreendentemente ele está no alto da tocha da Estátua da Liberdade com as torres ao fundo.  Claro que o palco de narração não é um simples acaso. Além da vista, não podemos esquecer que a estátua é um presente francês em comemoração aos 100 anos de Independência norte-americana.

O tempo do filme se passa em flash-back diante das lembranças do personagem protagonista. Num instante, ele nos direciona para alguns anos antes do outro lado do oceano Atlântico. A primeira parte conta a vida de Petit da infância até o rapaz se transformar num artista das ruas parisienses.



O longa-metragem nos deixa envolvido numa espécie de fábula do equilibrista dosando drama, humor e romance.  Numa sutileza comum nos filmes franceses, o herói fraco começa a ganhar força. O picadeiro e ambiente circense são pequenos para a aspiração dele. Persistente, Petit consegue emergir de um tombo num lago para um desafio maior cruzando as torres da catedral de Notre-Dame.

A segunda parte do enredo é regida pela obsessão do francês às torres em construção. Naquela época, elas eram noticiadas como as maiores edificações do mundo. Destronando até mesmo a Torre Eiffel. Isso bastou para se transformarem no grande desafio da vida Petit.

Juntando comparsas, ele segue para América com o objetivo de por o plano em ação. A situação não é fácil para quem tem medo de altura. Como num momento mágico, a câmera nos proporciona a escalada do arranha-céu desde o solo até a cobertura em 15 segundos. Não estranhe se sentir vertigem ou aquele frio na barriga. Os movimentos e giros da câmera nos transportam ao alto mirando para baixo. Vemos pessoas e veículos como meras formigas. Sem contar os planos gerais que permitem contemplar a vista do horizonte.


O filme ganha um ritmo de conspiração que não tinha anteriormente. A tensão e o suspense que envolve a concretização do sonho de Petit deixa qualquer um aflito. A densidade dos momentos cruciais que envolvem a realização do acontecimento instiga e prende a atenção. Mesmo que tudo indique e aponte para o fracasso é inevitável não torcer pelo personagem.

A expectativa só aumenta no desenrolar de aproximadamente 123 minutos. A construção do acontecimento é tão bem feita e amarrada que nos transformamos em parte do filme. É impressionante, mas não é errado admitir que deixamos a posição de  expectadores. No final, estamos tão envolvidos que a sensação é a de sermos cumplices de Petit.

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