sábado, 16 de julho de 2016

TUDO SE ACABA NO PIREX.



Imagine entrar num boteco de beira da estrada ou num bairro afastado ou num lugar vil. O ambiente desconhecido pode te surpreender. Pode ser que seja surpreendido (a) com coisa boa.  Uma atmosfera agradável e aconchegante onde poderá beber e comer a vontade. Ou não. Pode ser um lugar abominável e nojento. Onde te dê repulsa até de beber água num copo por achar que está mal lavado. Quem nunca sentiu isso em algum lugar?

O teatro também nos faz sentir assim.  Basta ser convidado por um amigo a adentrar uma peça num FIT (Festival Internacional de Teatro) ou qualquer outra peça desconhecida. Muitas vezes vamos ao impulso para nos sentir mais cult. Nem temos tempo de ler o cardápio, quer dizer, a sinopse. Então, somos surpreendidos. Tanto para o bem quanto para o mal. 




Horas na fila para adentrar na plateia dum palco escuro e sinistro. Quando começa a peça sentimos escarnio, asco, nojo, nervos, riso... Tudo isso e mais um pouco. Sinceramente não me vi indiferente diante da peça No Pirex.  Conforme os fatos iam acontecendo via os personagens se cuspindo, quebrando louça para comer cacos, sangue jorrando pelo céu da boca, agressões (não verbais), vômitos, mijo,  sexo oral e assassinato... Por um momento, estava diante do horror.

Algo intimidador, hostil e sujo. Todavia,  acredito que a proposta era realmente mostrar as situações esdruxulas num boteco/restaurante asqueroso com o seus personagens toscos. Quem nunca presenciou alguma situação real que assim?  A vida nos apresenta tantos lugares e muitos personagens que acabei identificando algumas situações. Além disso, contava com um bom cenário, bom figurino, interpretações singulares e efeitos (som, fogo, fumaça, luzes, etc). 




Não posso dizer que foi péssima a experiência. Ao todo era envolvente apesar da inconformidade que eu ia assistindo cada cena. Talvez se fosse uma situação real eu tivesse me irritado com muitas coisas. Porém, ali eu era um espectador observando. Os cuspes não me atingiam, os pratos não me acertavam e tinha aquele distanciamento diante da obra. Sabia que era uma peça teatral.

Quando me levantei e bati palmas no final foi porque realmente eu gostei. Não fui obrigado. Gostei não porque era algo belo e com história magnífica. Tanto que nem tinha falas o que dificulta a concentração. Isso incomoda porque queremos ouvir algo.  Os personagens mudos eram caricaturas de seres existentes nos bares, ruas, empresas etc. Todo momento os 5 personagens adentravam e saíam de cena fazendo coisas diferentes em cantos opostos para tentar te dispersar.  




De repente, como observador sentado na poltrona, eu estava diante do caos. Querendo que acabasse logo. Mas no meu entender a peça era uma provocação. Conseguiu me deixar desinquieto o tempo todo. Se esta era a proposta do grupo de teatro Armatrux, realmente tiveram muito êxito. 

Basta refletir um pouco para entender que o teatro tem muito disso. A arte não tem que ser apenas bela e entendível. Também pode causar inconformidade. Por isso, eu considero que vale a pena assistir. Achar bom ou ruim vai de cada um. Nada mais democrático que cada pessoa ter sua própria conclusão. 


Fotos: Internet

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