sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

O GRANDE E VERDADEIRO "BIG BROTHER" DO LIVRO 1984.


Pessoas aprisionadas num recinto competindo por um prêmio em dinheiro. Agem e reagem conforme supostos instintos e necessidades individuais enquanto são espionadas como se fossem ratos de laboratório. Cabe ao telespectador decidir quem fica e sai do programa em disputas semanais até enfim eleger o vitorioso vencedor. 


Cultura de massa e descartável? Claro que cada um tem sua própria opinião. Ame ou odeie é certo afirmar que o programa Big Brother se firma ano a ano como uma tacada certeira dos seus idealizadores e investidores. Fazendo sucesso em vários países ao redor do mundo.

Não vamos aqui discorrer sobre os acontecimentos e episódios do programa. Afinal, por sua vez, o título refere-se ao misterioso ditador  escrito por George Orwell. Não é a toa. A ideia do reality show de confinamento televisionado surgiu de um dos mais famosos livros deste escritor. 


FUTURO NÃO TÃO DISTANTE

Quando publicou o livro 1984  no ano de 1949, Orwell não fazia ideia  de como seria o ano escolhido para  temporalizar a obra. A data não passava de um futuro incerto e desconhecido. Perfeito para construir um mundo diferente do qual vivia e mesmo assim tão equivalente nas ideologias políticas. 

Apesar de não ser um retrato da época, sem dúvidas , a história traz como pano de fundo recortes deste mundo vivenciado por Orwell. O escritor indiano vivia em Londres e foi testemunha ocular de vários acontecimentos. Basta lembrar que  na década de 1940 vários conflitos armados chegavam ao clímax e derrocada. O mundo tomava consciência do horror que foi o holocausto e sofria as consequências das bombas nucleares . Uma Europa devastada por Hitler tentava se reerguer após a Segunda Grande Guerra Mundial. Teve início também a Guerra Fria envolvendo as tensões diplomáticas entre os Estados Unidos e a União Soviética.

Condizente com aquele momento mundial, não demorou para o livro se transformar numa das obras mais influentes do século XX. Mesmo pós 84 ainda torna-se atual e procurado sempre que aparece alguma figura remetendo a um grande ditador como o Big Brother. Apesar da história real provar que aquele futuro apocalíptico não se concretizou, ainda assim vez ou outra nos vemos diante de circunstancias que remetem ao livro. Visionário ou feiticeiro, Orwell consegue discorrer sobre os meandros sociais que até hoje regem o cenário global. 

A  trama  principal está interligada no poder exercido pelo governante mor. Por fim, como qualquer ser autoritário, o Big Brother não quer apenas se manter no poder como quer ser adorado por todos. Claro que qualquer semelhança com personagens da atualidade são meras coincidências. 

O governo consegue controlar tudo e todos.  Mantem as teletetas (câmeras) paras espionar as pessoas em suas próprias casas. Pune rebeldes difamando-os como traidores e terroristas. Além disso controla as informações do presente e do passado. Este é justamente este é o serviço do personagem Winston Smith: alterar palavras, frases e os mais diversos conteúdos de jornais, revistas e livros para dar credibilidade ao regime vigente.


WINSTON

O leitor é guiado pela rotina sem grandes emoções de Winston. Durante a maior parte da vida, o personagem nunca questionou a grande máquina na qual vivia. Ocupava um cargo na empresa pública e cumpria a função que lhe foi designada. Nunca almejaria sair dos trilhos ou ser diferente daquilo que lhe foi designado pelo sistema.

O  apagado funcionário do Ministério da Verdade é bem indiferente a sociedade totalitária em que vive. Entretanto, tudo muda quando ele se apaixona por Júlia. Ela é uma jovem com ideais libertários que envolve o rapaz em sua causa. Então, incentivados por O'Brien, membro do Partido Interno, ambos decidem agir para a libertação dos aprisionados no grande sistema.


IMITAÇÃO DA REALIDADE

A medida que lê, o leitor percebe o quanto esta explicito que o livro é uma metáfora das sociedades contemporâneas. Não só pela questão política, mas também pela vida vigiada e controlada. Somos controlados e mesmo assim temos aquela falsa impressão de liberdade. O que seria do homem se estivesse isento de qualquer controle? Seria sempre o mocinho ou um vilão sem escrúpulos?

Apesar dos meandros  envolvendo intrigas, fofocas, amores, traições e torturas, o livro tem características próprias. A principal delas é a critica acentuada sobre o  poder. centralizado. Por isso, o enredo é mais denso que a brincadeira proposta no programa de televisão. O romance acaba ficando desfocado diante de todas as engrenagens que envolve a obra. Por fim, as consequências das decisões do personagem guia conduz o leitor ao final inquietante e surpreendente. 

Será que o grande Big Brother realmente existe ou trata-se apenas da invenção do homem para ter acesso ao poder e controlar? Vale a pena ler e tirar as próprias conclusões.


Um comentário:

  1. É sabido (Enio 1877) que o ser humano em sua essência obscura e um grande "voyeur" onde captura nas atitudes alheias fatos inerentes ao seu comportamento instrinseco. E os grandes governantes já sabem disso ha muito tempo utilizando-se desse recurso para "capturar" a massa "alienada" do povo. Em resumo o velho ditado "Pão e Circo".

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