sábado, 13 de novembro de 2010

O NEGRO NA LITERATURA BRASILEIRA!



A personagem de Tia Anastácia, eternizada na obra O Sítio do Picapau Amarelo de Monteiro Lobato, é alvo de uma polêmica atual. O CNE (Conselho Nacional de Educação) aprovou a denúncia da SPIR (Secretaria de Promoção da Igualdade Racial) a respeito do racismo no livro Caçadas de Pedrinho (1933). 

Na narrativa, na qual a turma do sítio vive peripécias atrás de uma onça pintada, a cozinheira é chamada de “macaca de carvão”. Há, ainda, trechos como: “Não é a toa que macacos se parecem tanto com os homens. Só dizem bobagens”. Por esse conteúdo considerado discriminatório, o Ministério da Educação (MEC) poderá banir o livro das escolas públicas ou reeditá-lo com nota e explicativo do contexto histórico.

Atualmente, o papel do negro na literatura brasileira é analisado com um olhar crítico. Os conceitos com relação ao tema mudaram e a postura da sociedade é outra. Combate-se o preconceito com o intuito de coibir a discriminação real. Mas será que proibir a venda ou censurar a leitura de um livro é o melhor caminho? Afinal, o tema é abordado por muitos autores que desenvolveram clássicos literários estudados até hoje.




NAVIO NEGREIRO

No poema Navio Negreiro, Antonio Frederico de Castro Alves (1847-1871) descreve com expressões e figuras de linguagem o tráfico de escravos. “Em  sangue  a  se banhar. Tinir  de  ferros...  Estalar  de  açoite...  Legiões  de  homens  negros  como  a noite, horrendos  a  dançar”.

Os negros eram arrancados da África, separados de suas famílias e tribos e trazidos como animais para o Brasil. Castro Alves, conhecido como o Poeta dos Escravos, era representante de uma geração de brancos que lutavam pela liberdade dos negros e a maioria das suas poesias continha o ideal abolicionista.

MACHADO DE ASSIS

Neto de ex-escravo com mulher branca, Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) é um dos maiores escritores da língua portuguesa. Ele teve uma infância triste e pobre, mas foi privilegiado porque os pais eram alfabetizados.

O autor de Dom Casmurro e Memórias Póstumas de Brás Cubas aprendeu francês antes dos 15 anos.  

Por ler as grandes obras literárias, bebeu do conhecimento dos grandes pensadores de sua época, como Schopenhauer, Voltaire, Diderot, entre outros.

Machado de Assis, de um simples tipógrafo, tornou-se jornalista ativo na Imprensa Nacional. Dono de uma escrita ardilosa e única, escreveu histórias que caiu no senso comum.

No século XIX, era parte de uma minoria de descendentes de africanos a conviver com a alta sociedade. Mas, ele nunca gostou de ser chamado de mulato. Considerava essa uma derivação de mula, animal de carga.  


XICA DA SILVA

A superação dos escravos é o tema no livro Xica da Silva. Especializado em história brasileira, o escritor João Felício dos Santos (1911-1989) escreveu um romance bem humorado sobre a vida da escrava alforriada que se tornou rainha. 

O autor é considerado pioneiro na introdução da ficção histórica e baseada em fatos reais.

Ele escreveu, entre outros livros, sobre Zumbi dos Palmares no livro Ganga-Zumbi, entretanto, Xica é o título mais popular por ter se tornado filme e depois novela.



MACUNAÍMA

No livro Macunaíma, Mário de Andrade dá vida um anti-herói fora do comum. O personagem título no começo é um índio preto. Referência aos escravos que fugiam e se misturavam com os índios. Para o autor modernista, o seu personagem é um brasileiro em busca da identidade cultural. A cultura e religião Afro é retratada no capítulo chamado Macumba. Descobrimos que Macunaíma é filho de Exu. Porém, a grande polêmica é quando uma fonte milagrosa transforma o herói em branco de olhos azuis. “A água lavara o pretume dele”. Depois disso, ele começou a tratar os irmãos diferentes por causa da cor.

UMA SÓ LITERATURA 

O professor de Literatura Brasileira da Universidade Federal Fluminense, Domício Proença Filho, escreveu o artigo “A trajetória do negro na literatura brasileira” e outros livros com enfoque literário. Nesse artigo, ele traçou um percurso do negro na literatura e o preconceito implícito e velado. “Procura marcar a ultrapassagem do estereótipo e a assunção do negro como sujeito do seu discurso e de sua ação em defesa da identidade cultural”, diz na introdução.

Para Proença, separar literatura negra em um campo específico é aceitar o jogo do preconceito. “Há que assumir a igualdade na co-participação da construção da nacionalidade. Há que reivindicar o direito à plenitude da cidadania.” Na miscigenação do país não existe uma única raça ou cultura e a literatura negra não é apenas negra ou marron. “A arte literária compromissada precisa ser arte literária antes de ser compromissada”, afirma Proença. “Afinal, literatura não tem cor”.

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