Hugo Chavez foi um dos mais emblemáticos e polêmicos personagens da América do Sul nas últimas duas décadas. Como presidente adotou uma política de esquerda que foi recriminada tanto quanto adorada, dividindo a opinião pública venezuelana e do mundo todo.
Seis anos antes de se eleger presidente, liderou os militares num fracassado golpe de estado (1992). Depois de eleito (1998), modificou diversas vezes a constituição para ser reeleito e permanecer no poder. Este personagem popular rebelou-se com fortes críticas a influência e domínio econômico norte americano. Conseguiu irritar o Rei da Espanha com a opinião forte em defesa daquilo que acreditava (2007).
Chavez acreditava defender o povo da Venezuela contra os gigantes do poder. Mas, por fim, foi vencido na guerra que travava contra um câncer na região pélvica e morreu aos 58 anos (5 março de 2013). Deixava a vida para se tornar um mito latino.
A recente história da Venezuela é retratada nos documentários “A REVOLUÇÃO NÃO SERÁ TELEVISIONADA” e “RADIOGRAFIA DE UMA MENTIRA”. Os vídeos mostram com óticas diferentes a disputa pelo poder entre os chavistas e opositores.
O primeiro documentário tem ares épicos: o presidente é retratado no papel de um herói pelos cineastas irlandeses Kim Bartley e Donnacha O’Briain. A imagem de Hugo Chavez é exaltada como enviado do povo para libertá-los do domínio dos Estados Unidos. Por ser o quarto maior produtor de petróleo do mundo, o país é alvo do interesse de estrangeiros.
O império dos ricos e poderosos começa a balançar com a instauração da nova constituição (1998) intermediada por Chavez. Então, nos anos que se seguem, surgem os ataques e a tentativa da mídia para derrubar o governante em apoio ao empresário e opositor Pedro Carmona. Por isso, ele não renovou a concessão das principais emissoras de tevê do país.
Em 11 de abril de 2002 acontece o episódio que culminou com o clímax da epopeia. Uma manifestação opositora comandada pelo líder sindical Ortega entra em confronto com outra manifestação pró-chavistas.
A situação é mal explicada porque manifestantes dos dois lados foram baleados na cabeça. Entretanto, a mídia utilizou-se de algumas cenas para incitar a derrocada do governo vigente. Segundo o documentário, Chavez foi forçado a renunciar, preso injustamente e considera os meios de comunicação venezuelanos como bandidos da informação.
Contudo, apesar de a mídia ocultar a verdade, o povo saiu às ruas em defesa do presidente e aclamavam o retorno glorioso do herói. Assim, o filme tenta mostrar um lado humanista do Presidente Hugo Chavez: “o pai dos pobres”. Faz-nos remeter ao estilo populista de Vargas, considerado também como um grande ditador, mas com grande apoio popular.
Gravado por uma universidade de Caracas, segundo vídeo contradiz o primeiro filme. Desmentem inúmeras informações e reafirma a tentativa de manipulação de Hugo Chavez. Cita o presidente como um propagandista e demagogo, que fala algo e faz outra coisa. Negam que a tevê estatal tenha sido fechada por opositores durante o episódio da suposta renuncia. Desmistifica a teoria de o golpe ter sido arquitetado pelos Estados Unidos.
A mídia internacional mostra Hugo Chavez como a imagem do demônio. Alguém que desde quando era militar queria dar um golpe de estado (início da década de 90) e depois que foi eleito mudou inúmeras vezes a constituição para ser reeleito. Porém, não podemos deixar de ressaltar o fato de que ele sempre foi reeleito pelo grande apelo e carisma popular.
O que realmente aconteceu nesse incidente do dia 11 de Abril não será esclarecido tão cedo. Ambos os lados maquiaram a história para ficar mais agradável aos próprios interesses. Assim, como em outros tantos casos, pessoas são influenciadas e bombardeadas por informações deturpadas. O principal alvo são aqueles que desconhecem as técnicas e artimanhas da manipulação com imagens, closes, destaques e citações recortadas.
Diante de tantos fatos e as informações mostradas de cada ponto de vista e visão divergentes, anular ou omitir uma situação seria acreditar na parcialidade de forma cega e se influenciar. Ao concentrarmos apenas nas imagens que são mostradas, corremos o risco de ser guiados por cenas editadas e, assim, nunca descobriremos a verdade. Entretanto, a verdade é objetiva, podendo não existir certo ou correto. E algumas ideias (mesmo sendo totalmente opostas) podem ser tão bem formuladas que sugere o certo (a verdade absoluta).
Podemos ver esse exemplo no documentário “A Revolução não será televisionada”. O filme é pró Hugo Chavez e simplesmente esquece-se dos erros do governo e só exalta as apenas as qualidades. Porém, não podemos confiar nas imagens, pois o recurso audiovisual nos influencia dizendo que tudo aquilo é a verdade. Alienar-se a essa concepção seria não crer que as imagens são nítidas à edição humana.
Outro filme rebatendo o pró chavismo, “Radiografia de uma mentira”, desmente as ideias e se mostra claramente em oposição ao presidente. Contudo, também deixa perguntas sem respostas, como se quisesse apenas promover uma reflexão sobre o vídeo anterior.
Quando olhamos ambos os documentos com o olhar de fora, podemos analisar que nenhuma das vozes tem total credibilidade porque uma oculta a outra. Por isso, nenhum filme mostra o que realmente é a verdades. Cada um retrata o lado da história a que pertence, ou seja, o único interesse é convencer (manipular) sobre a causa mais justa. Isso faz a verdade permanecer oculta e submersa. Pelo menos até o dia em que alguém tenha coragem de aprofundar-se e contar realmente o que aconteceu de forma ampla e imparcial.
IMPRENSA BRASILEIRA
No Brasil, os maiores veículos de comunicação também não nos dão a oportunidade de conhecer a verdade sobre essa questão do país vizinho. Conforme o jornalista Ivo Lucchesi (Observatório da Imprensa): “a "grande" imprensa brasileira preferiu, uma vez mais, "romancear" o acontecimento”. O Sociólogo Emir Saber afirma que o golpe foi esquecido pela imprensa brasileira.
Não quero por em questão a veracidade da posição dos veículos de informação nacional. Mas (se pesquisarmos) são inúmeros debates e discussões que questionam porque a imprensa brasileira é contra Chaves. Talvez, por seguir a filosofia de direita, demonstram a antipatia pela política de esquerda desse governo. Inúmeras resenhas citam a teoria de que a imprensa brasileira é totalmente dependente da norte-americana: avessa à reforma ocorrida na Venezuela.
Coincidência ou não, a imagem que sempre tivemos pelos meios de comunicação foi a do filme “Radiografia de uma mentira”. Aprendemos a considerar Chaves no papel de ditador e antidemocrático. Rejeitando a visão do filme que mostra Chavez com grande apoio popular ao prometer divisão dos lucros do petróleo com a população (fato que registrou na nova constituição venezuelana).
CONSIDERAÇÕES
Na mídia tudo o que lemos, ouvimos e vemos passa pelo viés de interesses do condutor e agente produtor da informação. Assim, podem nos mostrar demônios e anjos, incitando apedrejamentos sociais. O monstro que vemos pode não ser tão feio quanto parece, ou pode ser bem pior.
Longe de discutir o que é certo ou errado, consideremos que a Venezuela é um país dividido em dois movimentos pró e contra o governo vigente. A única verdade é que entre os ante e pró-chavistas não existe uma luta de classes ou racial. Ambos os lados tem inúmeras pessoas de posse e sem, negras, índias e brancas que são a favor e contra.
Não vamos prolongar com a discussão envolvendo a questão de golpe ou antidemocrática que, apesar de mostrar votação empatada, elege um dos lados. Mas Chavez como ícone, assim como inúmeros presidentes e políticos, sempre será amado por uns e odiado por outros tantos.
Leia mais:
http://www.abcdmaior.com.br/noticia_exibir.php?noticia=39893
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/iq170420021.htm
http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/03/rede-globo-ataca-hugo-chavez.html
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