SILVIO SANTOS VERSUS FERNANDA LIMA (OU VICE VERSA)

Diversas vezes ouvimos pessoas afirmando que o mundo de hoje se tornou engessado e cheio de uma intolerância mórbida. Há um processo de demonizar os pontos de vistas diferentes do que atualmente é considerado padrão. O correto acaba sendo seguir uma cartilha evitando entrar em assuntos polêmicos. Caso contrário, logo surgem discursos inflados de egos feridos para condenar tudo e todos à fogueira santa do politicamente correto. 

Saudades dos áureos tempos dos anos 80 em que poderíamos ver o show sendo apenas show. Xuxa sendo Xuxa. Chacrinha sendo Chacrinha. A espontaneidade circulando sem nenhuma proposta de evangelizar ou pregar catecismos. É como se tudo tivesse que ter um viés de defesa das minorias. O enfadonho mundo atual acaba construindo tudo tão armado e carregado. Chega ao ponto de nem parecer natural. Isso faz grandes gênios da literatura, humor e outros mitos da cultura brasileira serem massacrados e condenados ao esquecimento. Se pararmos para analisar, vivemos a era em que tudo acaba sendo projetado como imoral e indigno.

Ganha o destaque da mídia mais um episódio dessa triste novela da Censura pós mundo moderno. Forçam uma rixa tendo como protagonistas os apresentadores Silvio Santos e Fernanda Lima. Ele por sua idade avançada e pensamento considerado antiquado, equivocado e até machista. Ela como fruto do cerco midiático atual, “mãe dos dragões” e levantadora de bandeiras a favor das minorias.

Tudo começou quando num dos programas do SBT, o apresentador analisando as beldades teve a infelicidade de comentar algumas fotos da jovem apresentadora. “Com essas pernas finas e essa cara de gripe, ela  não teria nem amor nem sexo”. Afirmou ele em tom de deboche fazendo analogia ao programa apresentado pela moça na rede Globo. Logo, Fernanda rebateu-o numa declaração ao programa Pânico na Band. “Acho que o Silvio é o maior comunicador vivo brasileiro, mas, nesse quesito, eu perguntaria: ‘Silvio, por que não te calas?’” 

Aproveitando o gancho, Silvio dedicou um quadro inteiro de outro programa ao assunto. Irreverente, respondia a todo momento que não se calaria mais. Também abriu grande espaço para falar da apresentadora. Incluindo uma tímida retratação analisando fotos melhores dela. "Se ela não souber fazer amor ou sexo, eu vou ensinar ela". Bastou isso para ser declarada a guerra midiática. Uma fala daqui. Outros dali. Cada qual empunhando brasões e bandeiras de valores morais referente ao fato em si. Então, somos invadidos por enxurradas de apoios e contrários.

Claro que é válido a discussão sobre direitos e desmistificações. Contudo, enquanto este assunto da suposta discórdia entre dois apresentadores acaba tomando uma proporção bem maior, outros são abafados. Tomar partido na suposta briga da defensora Fernanda Lima contra o machista Silvio Santos rende mais que promover discussões sobre as quatro mulheres mortas pelos maridos no terceiro final de semana de agosto. Não houve sequer uma manifestação ou camiseta de indignação. Mulheres desconhecidas só ganham as estatísticas enquanto famosas viram exemplo de debates. 

Sabemos que Silvio Santos é um rei midiático cheio de polêmicas envolvendo seu nome. Os comentários ácidos já lhe envolveram em diversas situações com Xuxa e outras personalidades. Sabemos que tudo, na verdade,  faz parte do seu estilo show man de ser. Todavia, será que Fernanda também é desse tipo midiático? Creio que sim até porque ela vive de mídia. Não? 

Basta recordarmos as várias vezes em que foi noticiada o fim do programa Amor & Sexo apresentado por Fernanda. No entanto, sempre havia uma nova temporada. Marketing usado para atrair mais audiência desmascarado por ela no programa Conversa com Bial do jornalista Pedro Bial. ''A gente tem esse truque, a gente sempre fala que é a última pras pessoas [falarem] 'ah, não'''. Então, juntando uma peça com a outra, isso é de fazer pensar se toda esta guerra declarada na mídia não seja um jogo publicitário. 

Poderia ela ter ligado para ele e conversado a respeito do fato pedindo retratação ou proposto algo em prol ao combate do machismo? Poderia. Deveria entrar com um processo buscando justiça e danos morais diante das vias legais? Se realmente sentiu-se injuriada, com certeza, deveria. Entretanto, o que mais parece é ser só mais um circo armado pela mídia especializada. Ter o nome de tal comunicador gera mais polêmica, dá mais ibope e vende muito. Será um jogo midiático em busca de audiência? Quem sabe? O fato é que os meios aproveitaram bem a situação para promover um show. 

Interessante que a musa das minorias e do empoderamento é um belo rosto para campanhas. Sempre cheia de um discurso polêmico e inflamado casa perfeitamente com a ideologia de um mundo ideal. Só que não! Basta procurar na internet para vermos a super mulher que prega igualdade de gênero fazendo brincadeiras feministas (tanto quanto machistas) na última temporada do programa Amor e Sexo. Há cenas em que o humorista Edu Sterblitch é menosprezado só pelo fato de ser homem e ter surgido num programa de humor masculino (o mesmo  Pânico na Band). O infeliz teve o cabelo raspado por Fernanda, além de servir como alvo e estar sujeito a outras brincadeiras tão machistas quanto o programa de que ele provinha. 

Claro que Fernanda tem o direito de falar e desabafar. Só não entendo porque se calou em seu próprio dilema familiar quando o esposo Rodrigo Hilbert foi exposto na polêmica que chocou veganos, vegetalinos e protetores de animais. O considerado “homão da porra” e marido perfeito protagonizou o abate televisionado de um filhote de ovelha de 6 meses num episódio do programa "Tempero de Família" (exibido no canal pago GNT). Segundo o jornalista Anderson Dezan do EGO (2016): “Muitas pessoas acharam desnecessário mostrar a captura do animal e, em seguida, ele já morto, de cabeça para baixo e com o sangue escorrendo pelo pescoço, caindo em uma bacia”.

Portanto, analisando toda a situação é de se suspeitar que a teoria do circo midiático seja o o principal motivo dessa guerra. Silvio Santos por ser polêmico e querendo mostrar-se engraçado e bonachão ou para atrair anunciantes e audiência. Fernanda Lima por considerar-se no front de batalha e no direito de defender a causa feminista ou apenas promover o próprio programa. Certo que tudo isso gera a oportunidade de discussões sobre o tema. Se for, que seja feito sem endeusamentos ou endemoninhamentos desnecessários. 

A única coisa lamentável é que nessa disputa entre David e Golias televisivos mais parece um massacre da liberdade de expressão (seja ela qual for). Assim, temos cada vez mais comunicadores sem naturalidade e espontaneidade. Além de discursos que mais parecem pregação decoradas de uma bíblia da sociedade pós-moderna.

No meio desse cala-te daqui e cala-te de lá, resta-nos esperar para ver aonde vai parar. Assim, aguardamos as cenas dos próximos capítulos para a conclusão dessa história.