quarta-feira, 11 de julho de 2018

OS SETE ABUTRES


Apesar de ser um filme antigo e preto e branco, A Montanha dos Sete Abutres (1952) tem uma história atemporal que consegue ser atual até nos dias de hoje. Prova disso, é que fatos recentes, como os mineiros soterrados no Chile (2010) e os meninos tailandeses presos na caverna, remontam a mesma história. Em todos os casos, uma situação trágica é adotada pela imprensa como forma de angariar leitores/espectadores, que fazem do fato um grande evento. 

O filme, dirigido por Billy Wilder, tem no elenco nomes como Kirk Douglas, Jan Sterling, Poter Hallm, entre outros. Mesmo não sendo conhecida do grande público, a película se tornou um verdadeiro clássico nas faculdades de comunicação. Visto, revisto e estudado inúmeras vezes por estudantes de jornalismo e áreas afins. Retrata por meio do personagem central, Charles Tatum (Kirk Douglas), a rotina da profissão de jornalista. 

O fio condutor da grande trama se passa em Albuquerque, uma longínqua cidade do estado do Novo México (EUA). Justamente nesse lugar isolado é que vai parar Tatum, após ser despedido de 11 jornais pelos mais variados motivos. Sem perspectiva de encontrar uma boa história, ele consegue emprego num jornalzinho local. Tinha o plano de trabalhar por apenas dois meses no lugar, mas acabou ficando bem mais. Então, ele se vê totalmente entediado diante do marasmo e a falta de uma boa matéria.


Mesmo sem motivação, ele vai cobrir uma desdenhosa corrida de cascavéis. Achava que seria mais uma pauta sem o menor atrativo, contudo, no meio do caminho descobre que Leo Minosa ficou preso numa mina quando procurava "relíquias indígenas". Imediatamente, o jornalista sente que essa reportagem pode ser a chance para voltar a atuar num grande jornal. Consegue transformar o resgate do homem num assunto nacional, atraindo milhares de curiosos e repórteres para o local. 

O filme enviesa pela questão ética da profissão, quando o jornalista até força a esposa da vítima fingir que está arrasada. Na verdade, a mulher ia aproveitar o trágico momento para abandonar o marido, entretanto Tatum a fez vislumbrar que ganharia um bom dinheiro com a situação. Prolongando ainda mais a situação de espetáculo e circo, o jornalista interfere até mesmo no resgate, conseguindo prolongar ainda mais a dor e sofrimento da vítima. Acredita que o ideal é que ele fique preso por seis dias e não apenas por algumas horas.

Claro que se formos analisar pela questão ética, parece impossível algo assim nos dias de hoje. “Trata-se apenas de uma obra de ficção com liberdade poética em 1h 51m de duração”, poderíamos pensar. Contudo, basta ligar a televisão e acessar os noticiários para ver que ainda perduram situações iguais. Não estou falando nem dos casos citados como os meninos da caverna e os mineiros soterrados que levaram dias para resolução. 


Algumas histórias parecem ganhar a audiência e se convertem em verdadeiras novelas, fazendo com que a mídia tente torcer ao máximo para arrancar o quanto render de sangue e lágrimas. Se precisar, são capazes de expor crianças, famílias e entrevistam até o cachorrinho da vítima. Algumas coisas são tão bizarras que conseguimos até referenciar o nome dos sete abutres com os sete pecados capitais que jornalista comete em nome de audiência. Será que sempre seremos como Charles Tatum?

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