No início do século XX, a cidade de São José do Rio Preto era praticamente uma vila em meio ao sertão do Noroeste Paulista. Os prostíbulos, ou melhor, casas de tolerância, concentravam-se na região central da cidade. Assim relata o senhor Aristides Santos, 98 anos, morador desde 1922. Ele acompanhou o desenvolvimento econômico, habitacional e presenciou os acontecimentos mais importantes da cidade. “Eu vivi e contribui para a construção de Rio Preto”, afirma.
Testemunha ocular, Aristides confessa nunca ter frequentado os lugares, mas ouvia falar bastante. Segundo ele, as primeiras casas do meretrício eram espalhadas pelo centro. “Eram casas normais e não chamavam atenção. Não se distinguiria das demais se não fosse pelos comentários e o movimento”, diz.
Naquela época a prostituição não era banalizada e nem vulgar como é atualmente. “As casas eram consideradas de luxo. As primeiras prostitutas da cidade eram francesas, argentinas, uruguaias... Eram mulheres ricas, educadas, bem vestidas que andavam de carro”. Havia um grande respeito, quando entravam nos estabelecimentos eram chamadas de madames.
Todavia, a cidade em seus primórdios não oferecia muito conforto. “Quando acabava a energia demorava de 60 até 90 dias para resolverem o problema. Talvez por esse motivo as estrangeiras fossem embora. Então, chegaram prostitutas brasileiras vindas do Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais”, diz.
O progresso chegou e com o crescimento inevitável, as casas de tolerância foram concentradas nos quarteirões das ruas Independência e Saldanha Marinho. Elas ficavam em um barranco próximo ao rio onde foi construída a Avenida Alberto Andaló. Nessa época, o bairro Redentora não existia e o bairro Boa Vista era um conjunto de chácaras.
Contudo, a população crescia e se incomodava: o prostíbulo era um problema. Então, as prostitutas foram deslocadas do centro urbano para as proximidades do cemitério da Ercília, na Vila Diniz. “Sempre eram jogadas onde não tinha nada: a margem. Mesmo assim, a mulher da vida sempre proporcionou a chegada do progresso: água encanada, esgoto e vias asfaltadas. Mas a sociedade é tão ignorante que não reconhece isso”, afirma ele.
Membro da associação afrodescendente de Rio Preto, Aristides entende bem do que é capaz o preconceito social. Quando estudava, era obrigado a se sentar no fundo da sala e não podia se misturar com os alunos brancos. Então, a forma como as prostitutas vivem e são vistas pesa muito no meio social.
Assim, as prostitutas ficavam num determinado lugar até a cidade se expandir, ocupar o espaço e expeli-las. “Elas foram parar no Parque Industrial, mas lá não deu certo e construíram casas no Jardim Paraíso. Bem longe das residências da classe média e da elite rio-pretense”, diz ele.
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