quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O CENTENÁRIO DA IMIGRAÇÃO JAPONESA NO BRASIL!


A comunidade nipo-brasileira está em festa: neste ano se comemora o centenário da imigração japonesa no Brasil (2008). Há exatamente 100 anos, no dia 18 de junho de 1908, aportou no Porto de Santos o navio Kasato Maru com 165 famílias japonesas. A maioria vinha de regiões pobres do Japão e trazia a esperança de conseguir trabalho e riqueza nas prósperas fazendas de café do Oeste do Estado de São Paulo. No início do século XX foi selado um acordo migratório entre os governos brasileiro e japonês, o Brasil precisava de mão-de-obra e o Japão enfrentava uma crise econômica e de desemprego, causado pelo crescimento populacional.

Segundo Luciano Alvarenga, sociólogo e mestre em Economia pela UNESP (Universidade Estadual Paulista): “Depois dos negros africanos e brancos portugueses, somados aos silvícolas americanos, que foram as matrizes originais da formação brasileira, podemos considerar a chegada dos imigrantes japoneses como uma segunda era na formação da chamada brasilidade, isso embora os japoneses serem mais fechados culturalmente”.

A imigração japonesa aumentou gradativamente no decorrer dos anos e, pelo menos, dois motivos podem ser considerados críticos no processo de adaptação dos orientais no Brasil. No começo, além da língua diferente, costumes, a religião, o clima, a alimentação e o preconceito, o que dificultava mais eram os contratos que foram estabelecidos para favorecer os fazendeiros e explorar o trabalho dos imigrantes. Isso impedia que as famílias voltassem para o país de origem.

Outro momento difícil foi durante a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), quando o Brasil apoiou os aliados e declarou guerra aos países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). O presidente Getúlio Vargas proibiu a imigração e o uso da língua ou costumes nipônicos. Qualquer manifestação era considerada crime de ofensa à pátria brasileira.

Depois da guerra tudo voltou ao normal e a imigração japonesa voltou a crescer. “De qualquer forma a miscigenação com os japoneses também aconteceu e a presença dos mestiços entre nós evidencia isso”, afirma Alvarenga. Não é à toa que atualmente o Brasil é o país com maior quantidade de japoneses fora do Japão. Completamente integrados à cultura brasileira contribuem cada vez mais com o desenvolvimento econômico e cultural do país.


Na região de São José do Rio Preto há um grande número de descendentes nipônicos. Uma delas é Cristina Midori Kataoka, 28 anos, sansei, pertence à terceira geração de japoneses no Brasil. Para ela é normal o convívio entre as duas culturas. “Hoje em dia é difícil encontrar uma família que seja só de japoneses”, diz ela. “Quando meus pais estão em casa eles conversam em japonês, mas quando tem alguma visita que não entende, então, eles falam em português”.

Completamente adaptada à rotina brasileira, Kataoka afirma que a única diferença que tem é os olhos puxados.  Porém, muitas vezes se sentiu “diferente”. “Infelizmente tem pessoas que acham que todo mundo precisa seguir o mesmo padrão de beleza e fazem comentários taxativos, dizendo que japonês não tem bumbum e não sabem dançar”, desabafa.

Kataoka afirma que quando era pequena não queria ser japonesa devido ao preconceito em relação as características físicas. Mas com o tempo acabou superando porque aprendeu que o mais importante é ser honesta e trabalhadora. Ela confessa que recebe cobrança dos dois lados: “As pessoas não orientais acham que todos precisam ser iguais, mas ninguém é igual. Enquanto isso os orientais cobram no sentido de querer manter a cultura japonesa sempre presente”. Ela se diz brasileira, jamais pretendeu ir morar no Japão e não acha que a vida poderia ter sido diferente se os antepassados não tivessem aportado no Brasil.

ANIME SPIRIT

Marcelo Kojima também é um nipo-brasileiro da terceira geração que reside em São José do Rio Preto.Com apenas 24 anos, ele é um dos responsáveis pelo Anime Spirit, um dos maiores eventos organizados no Noroeste Paulista para divulgar a cultura japonesa. “Além de diversão, as pessoas podem  conhecer um pouco da culinária japonesa comprar produtos orientais, conhecer mangás (quadrinhos japoneses) inéditos, assistir shows de bandas pop-rock japonesas, participar de palestras sobre a cultura japonesa, conhecer  um pouco do trabalho de dubladores de animes, fazer amigos, entre outras coisas”, afirma Kojima.


Kojima considera que desde a primeira edição (2005) o evento teve uma aceitação positiva do público. “ Fomos os primeiros organizadores de algo assim na região e recebemos muitos elogios pela coragem. Porém, durante o segundo ano sofremos muitas cobranças por alguns erros cometidos. Para reparar, durante o terceiro ano tomamos muito cuidado com detalhes e conseguimos fazer o melhor evento de anime e mangá. Foi um total de 1,8 mil frequentadores e se recebemos uma ou duas críticas foram muitas”.

Na quarta edição do Anime Spirit os organizadores pretendem  repetir o sucesso e promover o evento num espaço maior.  Terá apresentação de bandas japonesas de pop rock, palestras de dubladores de anime, venda de mangás inéditos na cidade, estandes  com várias lojas da região e da capital. Já está confirmada a vinda do cantor japonês  Ricardo Cruz integrante da banda JAM Project, considera a melhor do mundo de AniSongs (músicas temas de animes). Os 100 anos de imigração japonesa também vão ser lembrados com palestras e atividades relacionadas à comemoração. 

O crescimento do seguimento é prova de que os ocidentais sempre foram deslumbrados pela cultura e produtos orientais. Hoje o fascínio está ligado à questão  tecnológica e de produtos de ponta na comunicação como celulares, aparelhos eletrônicos, etc. Isso tem um pouco haver com o atraso técnico que o Brasil ainda carrega. Mas podemos destacar o crescente interesse pela comida e cultura religiosa oriental como o budismo.

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